quarta-feira, 16 de junho de 2010

E se...

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Não se pode impedir a morte.
Não se pode encurtar o luto.
Não se pode recuperar o que deixa de existir.
Não se pode evitar a dor.
Não se pode controlar os sentimentos.

E se...
o coração tivesse sete vidas como o gato?

4 comentários:

  1. Com tantos se's deixo-te com uma poesia de Mário de Andrade

    "Aceitarás o amor como eu o encaro ?...
    ...Azul bem leve, um nimbo, suavemente
    Guarda-te a imagem, como um anteparo
    Contra estes móveis de banal presente.

    Tudo o que há de melhor e de mais raro
    Vive em teu corpo nu de adolescente,
    A perna assim jogada e o braço, o claro
    Olhar preso no meu, perdidamente.

    Não exijas mais nada. Não desejo
    Também mais nada, só te olhar, enquanto
    A realidade é simples, e isto apenas.

    Que grandeza... a evasão total do pejo
    Que nasce das imperfeições. O encanto
    Que nasce das adorações serenas."

    É lindo e de uma sensibilidade encantadora né??

    Beijo de mim para ti Melzita

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  2. Quem diz que o coração não tem sete vidas???

    Nina

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  3. Impedir a morte é inevitável, podemos acelerar ou retardar este processo, mas é inevitável... agora encurtar o luto, depende do luto que estamos fazendo, tudo depende de nós próprios e de como encaramos essas nossas experiências... o que deixa de existir mantém-se vivo dentro de nós... a dor faz parte do nascimento, crescimento e morte, faz parte da nossa existência... controlar os sentimentos, minha amiga custa bué porque vai contra a nossa natureza, mas também se consegue, até negar temporariamente a sua própria existência, para depois explodir de emoções desiquilibradas onde o coração se eleva à razão, mas no final tudo se acalma, depende da nossa mente, esta comanda tudo, mas ainda existe a fracção do tempo, este é mandatório e decisivo para o encerramento dos nossos ciclos de sentimentos.

    Agora o coração ter nove vidas como um gato... fazes-me sorrir... é interessante como os acontecimentos se repetem e as frases escritas são novamente escritas por outras pessoas sem nunca termos falado do assunto!!!

    É tão grandioso perceber tantas semelhanças...

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  4. E se...

    Eu fosse um moribundo...

    Gostaria de um sinal de apreço, de um toque de carinho, de uma palavra de ternura.
    Nascemos para ser tocados. Vivemos para ser acariciados.
    Somos acariciados e confortados pela mãe ao nascer... porque desaprendemos a acariciar em adultos?
    Porque evitamos o calor de uma carícia?
    Porque permitimos a ausência de um abraço?

    E se...

    Eu fosse... alguém em sofrimento... em descompensação ou a padecer de dor...

    Gostaria que me dessem a mão e tomassem conta de mim.
    Que ouvissem o silêncio da minha dor e aliviassem, com amor, os bramidos que o meu corpo não mais consegue suportar.
    Não ignorar o desconhecido é algo que peço.
    Que simples que é ignorar o sofrer de outros.
    Que confortável fingimento evitar o meu padecimento.

    E se...

    Eu fosse... perturbado no meu sono profundo por dispneia sem fim...

    ... com bramidos insistentes incômodos ruídos, farfalheira incontinente... incomodativo... quebrante de qualquer regra de etiqueta.
    Gostaria de permanecer junto a ti; família e amigos; quem sempre me procurou e pediu conselhos.
    Porque se ausentam fisicamente e desculpas abraçam para justificar?
    Gostaria que o som dos meus bramidos se tornasse música para os seus ouvidos.
    Paciência... isolamento não é a solução... gostaria que não se escondessem de mim, e que não estivessem em exaustão.

    E se...

    Eu fosse... um débil e agitado ser...

    Gostaria que suportassem, sem reclamar, o meu diminuto momento de fraqueza, de alucinação, de confusão, de devaneio. Que me confortassem, sem mágoas, o que me é alheio.
    Que culpa eu tenho se não há culpas a quem apontar?
    Nada mais há a fazer senão, simples e conscientemente, aceitar.
    Compreender para além da insanidade irreal, da desorientação de momentos ou períodos de confusão mental.

    E se...

    Eu fosse... dependente da independência dos outros...

    ...imóvel, acomodado sem cómodo, acamado, aí permanecer apenas deitado. Sem abraço, ou perna levantar, sem que um dedo sequer fosse usar... e numa fralda, confinado estar.
    Gostaria de uma breve massagem; para alívio ou não; para simplesmente saber que, ainda, AQUI estou, por alguma razão.

    E se...

    Eu fosse... sonolento, ansioso e sem domínio do dormir...

    Das insónias, cansaço, fraqueza ou delírio, resultando num ilógico, contraditório, absurdo, disparatado, incoerente palavreado.
    Gostaria,... somente... que me falassem de pianinho

    E se...

    Eu fosse... gostaria...

    E se tu fosses?

    Adaptado de Carmem Esequiel

    De mim para ti Anita... com muito amor...
    Beijocas fofas

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