quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Email inesperado e encantador :)

Date: Tue, 19 Aug 2008 18:40:42 -0700
From: andrezzalarissa@yahoo.com.br
Subject: Olá
To: anitaigomes@hotmail.com

Ola Ana
Venho atraves dessa pois dei uma olhada no seu blog e achei muito interessante o assunto sobre Turismo Humanitario, na verdade faço faculdade de Publicidade e Propaganda na Anhembi Morumbi e tenho um projeto exatamente sobre isso, Turismo Humanitario.
Eu li sua reportagem, contando como foi la o que fizeram, vi as fotos, mais queria saber se vc poderia me ajudar respondendo algumas perguntas sobre isso.
O que chamas de "Turismo Humanitário"?
Consideras que o vosso trabalho contribuiu para o avanço ou para o retrocesso?

Quem ajuda voce no custo das viagens?
Voce viaja sozinha ou tem um grupo?
De quanto em quanto tempo voce faz essas viagens em prol de outras pessoas?
Viajam pelo Brasil? ou foi a primeira experiencia sua?
Bom se voce puder me responder essas perguntas ou até mesmo se tiver outras coisas a acrescentar eu ficaria muito grata de verdade voce me ajudaria muito, tenho que entregar um esboço do trabalho na quinta feira agora, se voce puder me responder amanha eu ficaria ainda mais grata.
Bom desde ja te agradeço.
Beijaooo fica com Deus e parabens por esse belo trabalho!!!

Andrezza



Ola Andrezza :)

Antes de estudar Enfermagem fiz a licenciatura em Jornalismo. Dai ter junto as duas no transmitir da minha experiência e ter feito o livrinho sobre a temática e o blog. É com muita alegria que respondo ao teu e-mail. Sempre que quiseres aqui estarei. Infelizmente ainda não chegou o meu momento de ir ao Brasil. Já tive oportunidade de fazer daquelas viagens de uma semana às praias do Nordeste, mas eu gostava era de conhecer o Brasil, não a piscina de um Resort. Um dia destes certamente que aí irei, mas também duvido que me apeteça regressar ao fim de uma semana :) O meu mestre de reiki, João Carlos Melo, tem uma ONG no Rio de Janeiro. ele é daí. Não sei se conheces. Podes ver em http://www.reikicomvoce.com.br/.

Quando participei na Missão Humanitária da Fundação AMI (Ajuda Médica Internacional) era estudante finalista de Enfermagem. Como era aluna tive de ser eu a pagar as viagens e a minha alimentação. A AMI deixou-me participar na missão. Já fiquei muito contente :) e depois deixou-me ficar na Casa da AMI em Cabo Verde sem ter de pagar nada.

Nas missões há sempre um chefe de missão: médico ou enfermeiro. E pelo menos mais um elemento. Depois podem estar mais elementos em missão, que vão vindo e indo consoantes as possibilidades e as necessidades.

Enquanto cidadã europeia, uma coisa muito interessante a ter em atenção, quando se vai para um país dito "de terceiro mundo" - terminologia que eu abomino - é a tendência para nos tornarmos colonizadores. Como se tivessemos a sabedoria universal e o modo como perspectivamos o mundo fosse o melhor e único a aceitar. ERRADO! Há que ter consciência e respeitar o espaço, a cultura, os hábitos da população e aprender muito com eles. Assim poderás oferecer-lhes "os algos" - conhecimentos, materiais, etc - que lhes possam servir na sua etapa evolutiva enquanto sociedade e indivíduos. Quando eu me referi a Turismo Humanitário deveu-se ao facto de sentir que partir em missão se tornou uma coisa "fixe", bacana (estou a tentar usar expressões brasileiras :) eh eh)... mas se vais para um sitio porque é bacana, porque vais ser o maior entre seus amigos, porque deve ser divertido ver aquelas pessoas que supostamente são umas "coitadinhas", mais vale ir ao Jardim Zoológico. Há que respeitar aquela comunidade. Estamos ali para as pessoas. Não para experimentar comidas, não para passear, não para conhecer o país. Claro que naturalmente essas coisas são ocorrendo e que também precisas de momentos de descanso, mas é diferente. Recordas o que aconteceu após o Tsunami no Sri Lanka? Foram centenas as ONG que foram para lá. Haviam faixas com os nomes das ONG ao longo das estradas, bandeiras no meio dos campos... ganhos em saúde para as populações? Pouquissimos. E quando sairam do país levaram essas bandeirolas publicitárias? NÃO! Achas isso ético? Passear ao Sri Lanka quando aquelas pessoas precisavam é de ajuda? E não era que lhes fossem dar ordens de como fazer as suas casas. Elas precisavam era que as ajudassem a refaze-las da maneira que eles sabem. Enquanto os ajudavas como eles queriam, obviamente que irias dando a conhecer como se faz em países ditos desenvolvidos e possivelmente chegar-se-ia a um meio termo espectacular e aí sim, havia ganhos para a população.

O meu trabalho na AMI em Cabo Verde contribui com avanços: rastreios em escolas para depois se pedirem patrocinios e se irem arranjar os dentinhos das crianças, formações sobre sexualidade em escolas, formação aos auxiliares do hospital, entre otros.

Por acaso houve um projecto de luta contra a propagação do HIV/SIDA (AIDS em brasileiro, verdade?) em que fiz um relatório com avaliação negativa. No entanto, foi muito bem recebido e assim que regressei a Portugal, estive em reunião com a chefia e a situação foi alterada. O projecto que já estava "planeado" quando eu lá cheguei era aproveitar a semana da festa da ilha, em que toda a população participava para colar uns posters e entregar preservativos. O que sucedeu? Os posters tinham uma imagem: duas pantufas de lã, uma rosa, outra azul. Estamos a falar de Cabo Verde, onde não se usa lã, onde não há uma identificação por cores do menino e da menina. Falava lá que em caso de dúvidas podiam ligar para uns números. Esses números eram de Portugal, nem tinham indicativo internacional, nem tinha lógica, uma vez que haviam meia dúzia de telefones na ilha e as pessoas nem para um copo de leite tinham dinheiro a maior parte dos dias. Os preservativos foram entregues nas barracas dos bares para serem dados quando os clientes pedissem. Logo, houve uma grande quantidade de balões pelo ar logo na primeira noite esgotando os preservativos. As pessoas não os utilizaram no acto sexual, não os sabiam utilizar e por uma questão socio-cultural aproveitaram-nos para enfeitar as ruas.

Se a AMI desenvolve trabalhos no Brasil... hum... desculpa, mas, sinceramente, de momento não me lembro. Procura no google Fundação AMI que eles têm um site e lá falam dos projectos que têm e onde.

Era isto que necessitavas? Se quiseres que responda melhor a algo ou que te fale de algo mais, é só dizeres.

Um beijo grande,
Anita.