terça-feira, 14 de abril de 2009

PROJECTO: LISTA DE DESEJOS

Uma amiga minha acha uma parvoíce fazer a lista de desejos para o Novo Ano... eu concordo que fazer essa lista na Passagem d'Ano é absurdo!!! Mas porque para mim a devemos fazer continuamente: a cada dia, acrescentando, cortando, especificando, corrigindo... é uma maneira de definirmos o que realmente queremos...
Os sonhos às vezes estão nublados... levando a que nem saibamos bem o que desejamos (andamos perdidos como as baratas tontas), ou já termos o nosso sonho realizado sem consciência disso (continuando no ciclo do sofredor e deitando tudo a perder), ou irmos traçando um caminho que a olhos nús se vê não ir na direcção da realização dos nossos sonhos... para além disso, os sonhos vão mudando - uns radicalmente, outros sofrendo pequenos ajustes para mais ou para menos...

Encontrei uma autora, Susanna Tamaro, que nas entre-linhas concorda comigo:

“ A época das ideologias e dos grandes sonhos utópicos terminou. Em vez das ideologias e dos sonhos, surgiu um vazio e esse vazio mete medo. Esse vazio pode ser preenchido seja com o que for, com desperdício, com destruição – mais uma vez! – ou com um projecto.

Usa-se pouco esta palavra, que é tão bonita. No projecto não há a grandeza do sonho ou da utopia, o projecto é “doméstico”, acessível. O projecto constrói qualquer coisa, mas fá-lo lentamente, com paciência, responsabilizando-nos pelas nossas opções.

O projecto não promete uma ordem nova e extraordinária, e, precisamente por isso, está isento de exaltações e de fanatismos. O projecto não está ligado a povos, nações ou etnias, está ligado a indivíduos, o seu eventual fracasso não se pode atribuir à história, ao capitalismo, ao fascismo ou ao comunismo, mas apenas a nós mesmos. O que significa ter um projecto? Significa apenas imaginar uma forma diferente de viver e pô-lo em prática sem delegar nada em ninguém, agindo simplesmente.

Na tal linha de crista, o projecto é a pequena faixa de terra onde pomos os pés. É pequena, mas pode aumentar. Quanto mais projectos há, menos espaço fica para o vazio. Acredito piamente nesta pequena-grande revolução, a revolução da responsabilidade individual.

De vez em quando, fecho os olhos e tento vê-la: não há hinos nem bandeiras, o que há são umas luzes minúsculas que se vão acendendo umas a seguir às outras. Não há faróis eléctricos, há tochas ou velas, chamas que oscilam, iluminando as trevas da noite em redor.”


Façam a vossa lista de desejos e... vão realizando-os...

sábado, 4 de abril de 2009

MEMÓRIA PARA ESTHER GREENWOOD

Vou tomar um banho quente
medito no banho
a água deve estar muito quente
tão quente que deves aguentar
com dificuldade
o pé dentro de água
então desces o teu corpo
centímetro a centímetro
até que a água chegue ao pescoço
lembro-me dos tectos
por cima de todas as banheiras
em que estive
lembro-me da textura dos tectos
das rachas
e das cores
e das lâmpadas
também me lembro das banheiras
nunca me sinto tanto eu mesma
como quando estou dentro de um banho quente
não acredito no baptismo
nem nas águas do Jordão
nem em nenhuma coisa desse género
mas pressinto que para mim
um banho quente
é como a água sagrada
para essas pessoas religiosas
quanto mais tempo permaneço na água quente
mais pura me sinto
e quando me embrulho numa toalha
grande branca macia
sinto-me pura e fresca
como um recém-nascido

Adília Lopes
UM JOGO BASTANTE PERIGOSO