quarta-feira, 15 de julho de 2009

História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar

.

- Estou a voar! Zurbas! Sei voar! - grasnava ela, eufórica, lá da vastidão do céu cinzento.

O humano acariciou o lombo do gato.

- Bem, gato, conseguimos - disse ele suspirando.

- Sim, à beira do vazio compreendeu o mais importante - miou Zorbas.

- Ah, sim? E o que é que ela compreendeu? - perguntou o humano.

- Que só voa quem se atreve a fazê-lo - miou Zorbas.

- Suponho que agora te estorva a minha companhia. Espero-te lá em baixo - despediu-se o humano.

Zorbas permaneceu ali a contemplá-la, até que não soube se foram as gotas de chuva ou as lágrimas que lhe embaciaram os olhos amarelos de gato grande, preto e gordo, de gato bom, de gato nobre, de gato de porto.


Luis Sepúlveda



2 comentários:

  1. Interessante como este "gato" simboliza tantas passagens na nossa vida, e revela toda a sensibilidade de quem vê nascer, crescer, ensina a voar, promove a auto-estima e auto-confiança, a autonomia... e depois... tem que permitir a sua libertação, tem de cortar o cordão, por muitas lágrimas que possam correr no nosso rosto!! Ficam as memórias... essas, permanecem eternas...

    Beijoca :)
    AS

    ResponderEliminar
  2. qual e a sensibilidade da obra?

    ResponderEliminar