domingo, 9 de setembro de 2007

BU PAPIA CRIOULO?


A comunicação interpessoal é a base de cada sociedade, e um dos métodos utilizado na mesma é a língua… A língua de um povo influencia e é influenciada pelas crenças, história e histórias que lhes pertencem, por cada pormenor que define cada um dos seus membros vivos, mortos e ainda por nascer…
Em Portugal já eu tinha ouvido falar em crioulo – Cesária Évora, Tito Paris, Sara Tavares, etc. Mas estar ali… relacionar-me com os outros e com o próprio ambiente em crioulo!! Xiii, “foi obra”!

Tudo dreto?” –
foi a primeira frase que aprendi, e já estava no terreno. Como aprendiz apaixonada de outras línguas que não a materna estava habituada a ter uma gramática, um prontuário ortográfico, livros básicos de referência… Bem perguntei por tudo isso. A resposta era invariavelmente:
Crioulo é língua di bôca, ká di livro!

Então iniciei o meu processo de observação. Durante a primeira semana canalizava todos os meus neurónios na absorção da cadência do som, do trejeito das sílabas, das palavras chave… e, aproveitei os meus dois professores que voluntariamente aproveitaram o meu primeiro fim-de-semana em Cabo Verde para se rirem às gargalhadas da minha pessoa entre tentativas de aprendizagem.

À segunda semana já eu me aventurava. Muito se ria o Ricardo – deixava-me com os utentes enquanto organizava “coisas” no canto da sala! De costas, outras vezes, mesmo virado para mim, engolia o som das risadas valentes, enquanto eu me atropelava palavra após palavra…

Os utentes olhavam-me estupefactos! Não fossem as maleitas que os tinham levado até mim e rir-se-iam também. Ao caminharem até ao Posto de Saúde estavam longe de imaginar que uma “branquela” lhes iria falar numa mistura de espanhol com brasileiro e ainda esperar que eles a compreendessem! :)


Entretanto, a minha colega Susana teve um acidente de mota, de que noutro momento vos falarei, e eu na terceira semana fiquei sem ela, sem o Ricardo que teve de vir a Portugal trazê-la e o chefe de missão, Paulo, ficou em casa de convalescença.


Assim, durante a 3ª semana passei a ser oficialmente uma dominadora de crioulo! Que remédio :)
Fiquei ali, sozinha, a ter de ir pagar a factura da água, da luz, do telefone, ir entregar papeladas ao Hospital, efectuar sozinha sessões de educação para a saúde – sobre Sexualidade, a várias turmas (de 40 alunos!) do 7º, 8º e 9º ano (adolescentes!)…




Aprendizagem de crioulo sob pressão! O facto é que quando o Ricardo regressou de Portugal ficou surpreso. “Oh, minina, bô papiá crioulo!” :)

Eh, eh… a partir daí ninguém mais me calava! Eu que até sou muito “caladinha”… Eh eh… Um gosta tcheu di papiá crioulo!

3 comentários:

  1. Não falo criolo quando muito arranho landim que o meu pai me ensinou umas palavritas tipo machibombo (autocarro). Parabéns pelo blog está super giro, da minha sister também não se espera menos. E está, essencialmente bem escrito. Hoje é dificil encontrar algo sem pontapés na gramática!
    Muitoooooooooooooooooooos beijinhos!
    Love u;)

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  2. Podes ser caladinha, mas escreves muito bem... ;)

    espero novos desenvolvimentos!!!

    bjinhuxxx

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  3. Olá, Caboverdiana !

    Você tá mesmo crioula!!! rsrsrsrsrs... A cor da pele, o penteado que aqui
    chamamos "Rastafari" ou simplesmente "Rasta".
    Olha, por terras brasillis nós conhecemos bem o que é a negritude. Cada um
    de nós tem na origem um pouco de sangre negro, memória do povo forte,
    violentado, sofrido e tão alegre da África. Candomblé, capoeira, música e
    alegria, e lá em algum lugar um tanto do "sofrimento esperançoso", que fazem
    parte de nossa índole, vêm certamente desse mágico continente africano.
    Obrigado pelo convite a visitar seu mundo emocional. Só não sei se consigo
    ir lá com a freqüência que gostaria...
    De qualquer forma podemos combinar assim: Toda vez que vc atualizar me manda
    um "sinal de fumaça". Vou lá e dou uma olhada, ok?
    Prá já adorei as imagens. Um dia vou às ilhas...

    Um beijo bem gostoso,
    João Carlos

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