sábado, 6 de outubro de 2007

TURISMO HUMANITÁRIO ?!

“ Na "Cimeira do Milénio" da ONU, que teve lugar em Setembro de 2000, os países membros assinaram, em conjunto, uma declaração, a Declaração do Milénio, que fixou 8 objectivos de desenvolvimento específicos, a serem atingidos até 2015. Estes objectivos, chamados os "Objectivos de Desenvolvimento do Milénio" (ODM), podem ser resumidos da seguinte forma:

1 Reduzir para metade a pobreza extrema e a fome;
2 Alcançar o ensino primário universal;
3 Promover a igualdade entre os sexos;
4 Reduzir em dois terços a mortalidade infantil;
5 Reduzir em três quartos a taxa de mortalidade materna;
6 Combater o VIH/SIDA, a malária e outras doenças graves;
7 Garantir a sustentabilidade ambiental; e,
8 Criar uma parceria mundial para o desenvolvimento.“ (http://www.oikos.pt/)


Entretanto muitas ONG (Organizações Não-Governamentais) adoptaram estes objectivos para si, tornando-os como os seus próprios objectivos. No entanto, estando nós já a meio caminho do prazo 2000-2015, e apesar de o número de ONG que existem e que se encontram em actividade um pouco por todo o mundo, ter aumentado para mais do dobro, os objectivos estão muito aquém de serem alcançados. Pelo contrário, há áreas em que os dados mostram regressões.
Este facto levou a que fosse levantada a questão do TURISMO HUMANITÁRIO!!!
Quantas organizações andam a passear sob a capa do humanitarismo?
Não sei responder… mas já houveram organizações que me levantaram dúvidas! A ti não?

Para quem, por esta altura, dado o cariz mais informal dos posts anteriores, possa já pensar que eu fiz Turismo Humanitário em vez de uma Missão Humanitária, posso garantir aqui que o trabalho desenvolvido pela Fundação AMI na Ilha do Fogo, tem obtido resultados concretos e imprescindíveis para o desenvolvimento da população. Há acções mais precisas e ponderadas, outras a melhorar, mas de um modo geral, a minha opinião é que têm desenvolvido um bom trabalho!


De um modo muito geral, irei descrever algumas das tarefas que fui realizando durante a minha estadia por Cabo Verde :)


Por norma o dia começava às 7 horas da manhã, depois, consoante o dia da semana, ia prestar cuidados primários de saúde para um Posto de Sanitário ou Unidades de Saúde:
- consultas de enfermagem (onde para além das competências de enfermagem ao nível de diagnóstico, monitorização de vários elementos e ensino, ainda efectuava intervenções médicas, como prescrição de terapêutica medicamentosa – o Prontuário Terapêutico foi durante muitas noites a minha leitura de cabeceira!); e,
- curativos (pensos, injectáveis, etc.).






Depois, por volta das 15horas regressava à cidade de São Filipe para realizar formação a profissionais de saúde, nomeadamente serventes do Hospital, ou então dirigia-me a alguma escola ou jardim-de-infância para a realização de acções de educação para a saúde - umas vezes a pais, outras a crianças, outras a ambos ao mesmo tempo. As temáticas andaram à volta dos temas mais importantes naquele contexto: sexualidade, planeamento familiar, saúde materna, cuidados de higiene, cuidados à água, saúde infantil e cuidados a doentes hospitalizados.


Outros dias havia em que passava o dia inteiro de instituição escolar em instituição escolar a efectuar rastreios às crianças, ao nível dentário, nutricional, dermatológico, gastrointestinal, etc.
Onde os dados eram um tanto ou quando desanimadores para mim.
Lembro-me que logo no primeiro jardim-de-infância estava eu a brincar com uma das muitas crianças que alegremente me rodeavam quando o chefe de missão me perguntou:
Tem sarna?
Hum?!
Pois, eu já estava com a mão mesmo em cima de uma manchinha redondinha de escabiose. Passei logo a estar mais atenta.
Para além destas acções directas com a comunidade, havia a elaboração de relatórios dos dados levantados, relatórios diários de actividade a enviar à AMI e pensar/ estruturar/ elaborar os materiais a utilizar na prestação de cuidados (desde os cartazes, folhetos, jogos, fantoches, ao corte/ dobragem de compressas e “esterilização” de ferros – escovar com sabão azul e uma escova de dentes, deixar repousar em água com lixívia e ferver 30 minutos em água no camping gás!).



As tarefas de limpeza da casa, compra de alimentos (a pé com as mochilas!), lavagem das roupas (à mão!) e outros aspectos do dia-a-dia eram partilhados entre todos e auxiliados pela maravilhosa Agostinha – uma mulher fantástica que acarinha todos os que conhece não deixando adivinhar a história de vida que tem e que por razões óbvias não irei expor aqui!


Mesmo assim havia dias em que dava para ir uma horinha à praia ou jantar fora ou então ficar simplesmente na soalheira da casa de papo para o ar a jogar conversa fora com os amigos que se ia criando.


Boa vida, não?!!! Eh eh...


PS: A esterilização!


Porque a esterilização me pareceu a mim uma das práticas mais impensáveis que efectuei… Merece umas fotos dedicadas só mesmo a ela!!

Aqui estão elas:




4 comentários:

  1. Olá Ana! Não podia mesmo passar de hoje,tinha mesmo que dizer o quanto fiquei a admirar a tua pessoa.Sim é mesmo de louvar esse teu trabalho essa tua entrega a causas como essas.Admiro também a tua coragem.Por tudo isto passo a ser leitora assidua do teu blog.Já estou curiosa por saber mais.
    Uma beijoka.
    DORA (clinica persona)

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  2. Olá!
    Também estou curioso por saber mais. Mas tenho perguntas específicas e sou impaciente...
    Porque achas que estamos a retroceder no caminho para atingir os objectivos fixados?
    Consideras que o vosso trabalho contribuiu para o avanço ou para o retrocesso? O que chamas "Turismo Humanitário"? Organizações que enviam expatriados fazerem turismo? Organizações que fazem projectos que beneficiam umas centenas de pessoas e prejudicam outras tantas? Organizações que fazem projectos que ajudam centenas quando podiam ajudar centenas de milhares com os mesmos recursos? Como saber quando não sabemos o que custa o projecto e os resultados que se prevê que tenha?

    :)

    Não basta aplicar bem os recursos para se atingirem os objectivos... É preciso aplicá-los melhor que no passado porque a dimensão dos problemas de que falas aumenta quando não se faz nada, mas também aumenta quando se faz! Só reduzimos o sofrimento quando "o tratamento" progride mais depressa que "a doença".

    O que achas?

    Obrigado.

    Bruno

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  3. Ha! Ha! Porreiro, uma humanitária que faz censura...

    Interessante...

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  4. O mito desta rapariga ser pau para toda a obra...
    Mas lentamente lá consegue começar a ver o que realmente interessa e distinguir o que é do que muitas vezes parece! Já andava ha muito para comentar esta aventura da anita por terras do fogo mas este post realmente foi o que motivou finalmente a faze-lo!
    Tem lógica no que diz e coerência nas palavras e o que muitos sabemos, ou melhor, julgamos que sabemos muitas das vezes é insignificante se o aplicarmos no contexto em que tudo isto se insere!
    Bjitos,
    Nunito.

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